Um prego fixo
Estou aqui para servir os pobres, o Pai eterno me ajudará… A minha missão é aquela de servir os pobres… O que fez o meu Fundador? Estou aqui para seguir seus passos. Estas palavras de irmã Dinarosa assumem o valor de uma entrega, manifestando o segredo de uma vida que ao passar dos anos rendeu mais intensamente e apaixonada. É o hino do serviço aos pobres, porque cada ser humano experimente a ternura de Deus. É a realização de um sonho que deixou marcas de bem na terra africana.
Irmã Dinarosa Belleri, nascida em 1936 começa logo a sonhar alto. Na sua casa em Caillina, pequeno lugarejo de Valtrompia (Brescia), o pai Battista e a mãe Maria Riboldi, com o modo de vida transmitem o gosto e a beleza da fé para a menina.
Teresinha, este é o seu nome de batismo, frequenta a escola fundamental no período em que a Itália está em guerra. Na paróquia e no oratório, onde estão presentes as Irmãs dos Pobres, aprende a ter o olhar de Cristo para cada ser humano e, sobretudo para os mais pobres e abandonados. É vivaz e cheia de energia. Na sua formação cristà ressoa frequentemente o refrão oração, ação, sacrifício.
Aprende o trabalho de costureira. Não é um trabalho apaixonante para uma jovem exuberante e amante da alegria. Assim que se abre a possibilidade de um trabalho na fábrica, deixa agulha, tesoura e fio para se empenhar com os parafusos de ferro na fábrica . A distância de 11 km não a desanima. Não está sozinha, com ela estão outras jovens que com as bicicletas se deslocam ao lugar do trabalho.
A última parte da estrada é uma subida acentuada para as bicicletas. Um verdadeiro cansaço. As jovens deixam as bicicletas em um depósito e vão com o ônibus de linha. Teresinha tem o dinheiro no bolso para a passagem, mas escolhe enfrentar a estrada ida e volta à pé. O dinheiro economizado se destina para realizar o seu sonho: adquirir
seus materiais para entrar no convento e se consagrar.
O seu caminho formativo na Congregação das Irmãs dos Pobres inicia no dia 18 de março de 1957. Relaciona-se bem com as jovens que também estão em discernimento vocacional. É alegre, serena e sabe simplificar com seu espontâneo sorriso as situações mais difíceis. Sempre tem uma boa palavra para todos… No rito da entrega das vestes, recebe o nome de irmã Dinarosa. Sente-se fascinada pela frase do Fundador: “Eu procuro e recolho o refugo dos outros, porque onde os outros já fazem, o fazem muito melhor do que eu poderia fazer, mas onde os outros não fazem, eu procuro fazer alguma coisa, assim como posso.”
Medita-a e a faz objeto de seus pensamentos e da sua oração. Nas adorações reza em particular para os pobres sozinhos e abandonados nas terras distantes… Quando a Madre Geral, um dia após a primeira profissão religiosa no dia 03 de outubro de 1959, a comunica que deverá estudar enfermagem, irmã Dinarosa fica extraordinariamente feliz. Vê nesta orientação um sinal de Deus para o seu futuro: ir à missão e curar os doentes contagiosos. Obtêm o diploma de enfermeira profissional em Roma) e realiza a prática (estágio) em Cagliari em um hospital no litoral, especializado em tuberculose. As Irmãs dos Pobres a serviço dos doentes são por volta de 30 e vivem em condições de extrema pobreza: dormem em cabanas usadas pelos militares durante a guerra e cozinham à beira mar. Irmã Dinarosa presta seu serviço de enfermagem na sala de cirurgia e em cada setor em que é solicitada.
O hospital para ela é uma academia profissional, mas é também a varanda no mar imenso e infinito que diariamente se abre aos seus olhos e aumenta nela o desejo da missão.
Em outubro de 1966, irmã Dinarosa recebe a destinação para o Centro Hospitalar de Mosango (África) que por 17 anos se torna a “sua casa”, a casa da misericórdia. Tem mãos que medicam com doçura e desenvoltura; tem um olhar que transmite confiança e tem palavras esperançosas e confortadoras. Leprosos, tuberculosos e outros doentes graves são os seus preferidos, juntamente com as crianças: cada vez que curava uma criança florescia no seu rosto o sorriso, irmã Dinarosa ficava feliz. Na ocasião do seu primeiro retorno à Itália, especializa a sua formação em medicina tropical no Instituto Princ Léopold ad Anversa (Bélgica).
Aos 40 anos com uma rica experiência de vida, as superioras a transferem para Kikwit. Irmã Dinarosa tem a “língua solta”: ama sorrir, brincar, falar, mas não gosta de escrever. As suas cartas são os pobres. Os escritos na sua vida são raríssimos. Por isto são ainda mais preciosos. . Irmã Dinarosa não ama discursos sobre a pobreza. O importante não é falar, mas compartilhar.
Em janeiro de 1995, em Kikwit e no território circunvizinho se registra um
aumento de mortos . Quando irmã Floralba morre, irmã Dinarosa continua, como sempre, o seu trabalho dedicado e generoso. Aliás, o intensifica. Entre os doentes, naquele dia estão duas enfermeiras a ela muito queridas. Ela as acompanha até a morte. São dias em que o contágio cresce excessivamente. Irmã Dinarosa desenvolta, corajosa e forte, na primeira semana de maio começa a perceber uma canseira intensa. Ao cansaço, se acrescenta a febre alta e persistente. Os médicos prescrevem antimaláricos e antibióticos. Mas nenhum medicamento tem eficácia. Irmã Annamaria Arcaro, assim relata o epílogo da vida de irmã Dinarosa: Por volta das 3 da manhã do dia 14 de maio irmã Dinarosa não respondia mais e a respiração estava acelerada. Tinha entrado em coma. Daquele momento em diante fizemos a vigília em duas. Irmã Dinarosa não acordou mais do coma e às 9h deu o último suspiro; passou docemente do sono ao grande sono do Senhor. A preparamos, vestindo-a com seu hábito branco, com o véu e o seu crucifixo. Coloquei em volta do seu leito hibiscos vermelhos e rosa. Estava linda, em uma grande paz,
pronta para o encontro com o Senhor que havia tanto amado, servido e dado a sua vida por amor aos irmãos.