A mão da Providência
Irmã Vitarosa, nasce em Torre de Passeri de Palosco, em 1943 e recebe o nome de Maria Rosa. Vem duma terra laboriosa e forte. O pai, Angelo, é peão de fazenda e devido seu trabalho, muda constantemente de cidade com a família. É um deixar e partir. De estável para a família Zorza é o ar das fazendas, a capacidade de trabalho e sacrifício, o terço rezado juntos, à noite, e a confiança na Providência, sempre. Em família com o pai e a mãe são nove, sem contar os dois filhos mortos recém-nascidos. A Itália há um mês não está mais do lado dos alemães: firmou um acordo com os anglo-americanos. É tempo de guerra e em todo lugar a situação é crítica: preocupação e pobreza se dão as mãos, mas à mesa dos Zorza polenta, sopa e um pedaço de queijo nunca faltam. O sofrimento maior chega com o final da guerra. Em 1945, aos 38 anos, morre a mãe Maria Merigo. A pequena Maria Rosa com dois anos é confiada à avó paterna, Faustina, que se torna sua segunda mãe.
Em 1949 o pai Angelo se casa com Maria Callegari, a família pouco depois acrescenta mais dois lugares à mesa. Maria Rosa frequenta a escola fundamental , à tarde, quando está livre da escola se ocupa dos irmãozinhos, porque a mãe é frágil em saúde e frequentemente adoece. Ao terminar a escola fundamental, se encaminha ao trabalho em uma fábrica de cabos de guarda-chuvas. Maria Rosa vive uma adolescência serena. Escreve Maria Rosa: “Aos dezoito anos conheci um rapaz que me propôs compartilhar a vida com ele. Namoramos por dois anos e me parecia muito bonito o amor que nascia entre nós. No respeito recíproco procurávamos nos conhecer e fazer projetos para o futuro. Mas dentro de mim alguma coisa não estava clara: será mesmo isto que Deus quer de mim? Devagar começou a clarear dentro de mim… Aos vinte e um anos senti que era hora de dar a minha resposta a Deus, tornando-me sua na vida religiosa. Fiz um sério caminho de procura para conhecer em qual congregação haveria de viver”. Também Giuseppe, o seu namorado, descobre um novo projeto de Deus para ele e o realiza, consagrando-se à vida religiosa. Maria Rosa, antes de decidir-se definitivamente, escolhe fazer uma experiência de trabalho no Hospital Psiquiátrico, de Varese, onde conhece as Irmãs dos Pobres que estão à serviço no hospital. A experiência ajuda a entender o que é amar Cristo abandonado na cruz e o que comporta entregar-se totalmente a Ele.
Aos vinte e três anos, no dia 1º de setembro de 1966, entra na família das Irmãs dos Pobres e segue as etapas formativas; no rito da vestição do hábito religioso, recebe o nome de Irmã Vitarosa e no dia 25 de março de 1969 celebra a primeira Profissão Religiosa na capela da Casa Madre em Bérgamo. É feliz e contente. Nenhuma preocupação ou pensamento consegue apagar o sorriso luminoso que ilumina o seu rosto. A sua voz comunica serenidade, faz estar bem quem a encontra. O trabalho não lhe pesa. É incansável. Ao contrário, lhe pesa a escola de enfermagem profissional e o curso de especialização em geriatria. O tempo de estudo para ela não é um período fácil, mas igualmente feliz, porque vê realizar-se o seu sonho. O amor torna leve, também as coisas pesadas e difíceis.
A disponibilidade em aceitar as transferências de uma casa à outra, com prontidão, não é somente fruto da experiência em família, mas também expressão de uma especial sintonia com o Fundador:
Se vos pedem para cantar quando faltam os outros, cantem, se não, silenciem, se vos interrompem no meio do canto, silenciem… Se depois de um pouco, vos pedem para cantar novamente, cantem…
Ao início dos anos oitenta, com a sua espontaneidade que lhe é habitual, irmã Vitarosa comunica à Madre Geral que está disponível para a missão na África, onde a pobreza não tem limites e as ajudas são escassas e menos frequentes. Pede para partilhar as condições de vida dos irmãos não alcançados pelos outros.
No dia 20 de outubro de 1982, irmã Vitarosa chega em Kikwit. A primeira reação é de desconcerto: encontra um hospital em condições precárias, inimaginável para a sua realidade na Itália!
Superado o desânimo do início, arregaça as mangas, se dedica-se às crianças desnutridas, não perde de vista as pessoas que vivem na miséria mais degradante e procura ajudá-las, colocando à disposição todos os possíveis recursos.
Irmã Vitarosa ama falar e ama escrever. À mesa relata às irmãs o seu dia, também as coisas mais simples. Com o mesmo espírito escreve aos familiares, atenta a cada um e a cada acontecimento da vida: casamento, nascimento, doença, morte. Faz conhecer as situações de pobreza, de falta de assistência sanitária de tantas pobres pessoas não atendidas pelos hospitais públicos pela falta de verbas. Relata o drama de quem vive a cotidiana incerteza de não ter o que comer para saciar a própria fome e a da família. Queima a consciência de quem escuta e lança com simplicidade e firmeza os apelos à solidariedade concreta e constante.
Em 1991, atingida pela isquemia, retorna para a Itália. Permanece somente o tempo necessário para se restabelecer na saúde e depois volta. A quem lhe aconselha a permanecer na Itália responde: Se devo morrer, melhor morrer com o meu povo!
Retorna à África com uma nova destinação: a missão em Kingasani, periferia de Kinshasa. Irmã Vitarosa chega em uma situação social preocupante: mistura de amargura, exasperação e raiva por uma crise econômica terrível em que a política não consegue dar resposta concreta e de credibilidade. Saqueadores e assassinos aumentam o medo e a confusão.
No dia 25 de abril de 1995, em Kikwit morre irmã Floralba! Nos dias seguintes notícias perturbadoras chegam de Kikwit. Começa a circular a suspeita que a causa da morte seja devido a um vírus contagioso. Enquanto morrem numerosos africanos e com eles irmã Clarangela, irmã Danielangela e irmã Dinarosa.
Neste drama, irmã Vitarosa não consegue resistir… Sente o dever de partir também para ajudar… Obtida a permissão, enche a mala de medicamentos e parte cantando: “Se na Igreja Jesus Cristo te chama, aceita servi-Lo com todo o coração”. Está convencida de vencer a “diarreia vermelha”.
Mas os seus medicamentos não servem. Servem a sua humanidade e a sua coragem de estar próxima de irmã Annelvira, até quando chega a recomendação do isolamento. O vírus que está semeando a morte, agora tem um nome: Ebola. Os médicos vindos de Atlanta tomam as providências necessárias.
Em isolamento está irmã Annelvira e também irmã Vitarosa, mesmo que não apresente os sintomas típicos do Ebola. Tem-se a esperança de que consiga superar. Mas com o passar dos dias, a irmã Vitarosa se sente sempre debilitada. Pensa que não conseguirá. No fax do dia 26 de maio está escrito que está consciente, mas não tem mais vontade de falar.
Entre o dia 27 e 28 de maio de 1995, a morte: Tudo está consumado! O Senhor levou com Ele na glória dos Bem Aventurados também irmã Rosa, às 2h… Não temos mais palavras… O mistério é grande, nos envolve e em um esforço supremo digamos: “Pai em tuas mãos a entregamos e também as nossas vidas”.