Por um amor maior.
No dia 01 de março de 1966, dia do seu ingresso nas Irmãs dos Pobres, irmã Danielangela recebe um buquê de flores com uma mensagem: Eu não aceito perder você. Espero-te por três anos. Assinado Sergio. Sergio esperou em vão. Irmã Danielangela, 18 anos, estava mesmo decidida: a sua não era uma fuga ou uma emoção de adolescente inquieta, mas era escolha de uma jovem forte, decidida e madura. Amava a música e a companhia das amigas, os passeios de bicicleta, a emocionante experiência de algumas cavalgadas. Fazia as coisas que todos faziam, mas sabia aquilo que queria e estava pronta para lutar pelas coisas em que acreditava. Sentia a vocação como um fascínio, uma atração que a levava a deixar folha branca ao Senhor nolivro da sua vida.
Nasce em Bérgamo, no bairro Loreto, no dia 15 de junho de 1947. É a 13ª filha de Daniel e Angela Bacis, ultima de sete sobreviventes que nasceu após 23 anos do nascimento do filho primogênito. Maria, a irmã de6 17 anos se torna sua madrinha. No batizado recebe o nome de Anna e em casa a nova criatura é acolhida como um dom e festejada como uma benção.
A infância transcorre tranquilamente, recebe muitas atenções dos irmãos maiores. Participa das alegrias da casa e aprende a compartilhar os pequenos cômodos da simples casa, cresce na experiência da solidariedade, experimenta a graça de sentar-se à mesa com tantas pessoas e tem o desejo de se fazer ouvir. É a menor, mas se faz notar.
Aos nove anos, Anna encontra a dor e experimenta as lágrimas do sofrimento: em 1956 morre o seu pai Daniel, um ano após, morre também a mãe e no dia 03 de agosto de 1958 o irmão Tarcisio em um acidente. A perda dos pais e do irmão repercute no seu sensível interior. Cresce rapidamente e brevemente não se encontra mais a criança que sonhava em dedicar a própria vida ao serviço dos outros. Os seus pensamentos e sentimentos se dirigem a outros ideais. É despreocupada e alienada. Nada de catequese. Deus está fora dos seus interesses verdadeiros.
Com o trabalho, começa a tomar consciência de si. Questiona-se sobre o que fazer e como fazer para reencontrar a paz e serenidade interior. Um dia enquanto trabalhava em silêncio o mesmo pensamento me perturbava: aquele que me dava a sensação de estar fazendo pouco. Foi naquele momento que uma rápida luz iluminou meu íntimo esclarecendo que, se eu me tornasse consagrada, poderia fazer muito mais. O descartei naturalmente como uma ruim tentação, mas justamente naquele momento teve início a minha vocação.
Inicia assim, um percurso de procura e de combate que a leva a manifestar a Deus a sua disponibilidade a doar-se totalmente a Ele na família religiosa das Irmãs dos Pobres. No dia 29 de setembro, enquanto na Europa começa a soprar os ventos de 68, emite a Primeira Profissão Religiosa. Depois inicia em Milão a formação específica para a enfermagem em vista do serviço aos doentes e idosos.
Em 1974, após a Profissão Perpétua, “mergulha” no trabalho. É preparada, capaz, brilhante e envolvente. É sensível como um radar: adverte sobre o clima de baixa maré da mentalidade espalhada e intui a chegada de um tempo em que Deus não é negado nem rejeitado, mas simplesmente excluído. Então intensifica a cura da vida espiritual e envolve quem trabalha com ela na oração pessoal e comunitária, não para distrair-se do presente ou para ter uma ilusória consolação, mas para ler e compartilhar profundamente cada pobreza e sofrimento. Assim quando irmã Danielangela manifesta abertamente o desejo de dedicar-se à vida contemplativa, a superiora da comunidade, com quem há tempo convive, sugere a ela, pedir uma experiência em missão, antes de tomar tal decisão.
No dia 04 de julho de 1978 parte para Mosango. Entre tuberculosos, diabéticos, desnutridos, doentes no hospital, pobres que chegam ao “dispensário. De Mosango passa para Kikimi, uma região paupérrima com 80 mil habitantes na extrema periferia de Kinshasa, uma verdadeira pobreza, com a energia elétrica limitada a duas horas por dia e água racionada para as necessidades indispensáveis. Irmã Danielangela é superativa e feliz, inaugurou o setor da nova maternidade, com 30 leitos. Aos amigos de Lallio (Itália – Bergamo) escreve: Agora as mães não dão mais à luz aos filhos no chão, mas em condições humanas. Imaginem a alegria do povo!
Em abril de 1995 durante a epidemia de Ebola, irmã Danielagela se oferece para cuidar da irmã Floralba. Parte para Mosango e se coloca ao serviço cuidadoso e humilde aos corpos desfigurados pelo contágio do vírus Ebola.
Irmã Danielangela retorna na comunidade, resolve os empenhos mais urgentes, compartilha o sofrimento pela morte de irmã Floralba, participa do funeral e permanece desanimada. Logo após, também ela começa a sentir um estranho mal estar, é internada em Mosango e quando os sintomas se agravam é transferida para Kikwit na “casa de isolamento”. Ebola ainda não era diagnosticado e já estava realizando a destruição. Irmã Danielangela morre no dia 11 de maio de 1995.